Durante o dia e à noite, o comércio e o consumo de crack na praça em frente à antiga rodoviária é constante. Autoridades dizem que fazem o possível no combate à droga.
O menino aparentando 12 anos caça uma lata de refrigerante no lixo, saca do bolso uma pedra de crack e fuma. A rotina do garoto e outros usuários foi acompanhada durante dois dias da semana por repórteres fotográficos de O Diário, na Praça Raposo Tavares, Centro de Maringá.
O menino não escolheu o ponto por acaso. A praça tornou-se uma espécie de Cracolândia maringaense e atrai homens e mulheres de diversas idades para o comércio e consumo da droga, tanto durante o dia como durante à noite. De tão comum, a cena parece já não despertar a atenção de quem passa por ali. Prefeitura, Polícia Militar e Ministério Público garantem que estão tomando providências sobre o caso.
“As drogas não vão acabar nunca, a realidade é essa. Seria uma grande vitória se a gente conseguisse evitar que o consumo cresça ”, diz o diretor do Programa Antidrogas da Prefeitura de Maringá, Manoel Costa.
Os meios que o município dispõe para retirar os usuários das ruas é a repressão policial, contra traficantes e consumidores pegos em flagrante, ou simplesmente o convite, por meio de abordagens de assistentes sociais. “O que nossa equipe pode fazer é convidar a pessoa para ir a um abrigo provisório. Não podemos obrigá-la. Algumas aceitam, mas no dia seguinte já estão na rua de novo”, diz Costa.
A Polícia Militar diz que as prisões de usuários e traficantes são frequentes no centro . O usuário detido normalmente está na rua já no dia seguinte, após assinar um Termo Circunstanciado na delegacia. “Fazemos inúmeros encaminhamentos de usuários para a delegacia, temos equipes em patrulha constante nas regiões mais críticas. A PM está fazendo o que pode ser feito”, diz o tenente Alexandro Marcolino Gomes.
A promotora da Infância e Juventude de Maringá, Mônica Louise de Azevedo, diz que vem reunido provas para acionar judicialmente o poder público. Diz que o objetivo é cobrar providências quanto ao consumo de drogas entre crianças e adolescentes. “A gente tem que cobrar políticas públicas, estamos recolhendo informações para isso”. Mônica diz que o caso do menino que fuma crack na Raposo Tavares não é isolado. “Infelizmente, não é um caso único, me deparo com várias situações como essa. É uma realidade brasileira”, comenta.
A estrutura para o tratamento de viciados está sobrecarregada. Entre comunidades terapêuticas particulares e serviços públicos, a capacidade atual é para o atendimento a 180 homens adultos, 40 crianças e adolescentes do sexo masculino e 21 mulheres.
Nas comunidades terapêuticas, praticamente todas ligadas a instituições religiosas, o custo de cada dependente químico é de R$ 900 por mês — o tratamento envolve profissionais de nível superior e despesas com estadia Parte desse custo é subsidiado pelas organizações religiosas,mas normalmente é necessário ajuda financeira por parte das famílias dos dependentes químicos.
“O município não tem convênio de vagas com as instituições terapêuticas. Nossa sorte é que elas têm sido muito flexíveis, aceitando os casos que encaminhamos”, diz o diretor do Programa Antidrogas. Costa diz que há o projeto para regulamentar do Fundo Municipal Antidrogas, que poderia bancar internações e programas de prevenção. A ideia ainda não saiu do papel.
Quarta-feira, 15h36, Praça Raposo Tavares — Sem se intimidar com o movimento, o menino-criança improvisa um cachimbo com uma lata de refrigerante para saciar o vício precoce. Na quinta-feira à tarde, ele continuava na mesma praça, com a mesma roupa. Foto do repórter-fotográfico Rafael Silva.
Quinta-feira, às 15h56, Praça Raposo Tavares — Os dois jovens e o homem que aparenta ter 50 anos compartilham da droga. O cigarro aceso na mão do rapaz à direita serve para fornecer cinza, usada para ajudar na combustão da droga. Registro fotográfico de Walter Fernandes.
Quarta-feira, 16h36, Praça Raposo Tavares — O rapaz corre para embaixo da escada do palco da praça para se proteger de uma pancada de chuva. Permanece ali, fumando crack, durante uns dez minutos. A chuva passa e ele sai caminhando normalmente. Foto do repórter-fotográfico Rafael Silva.
Quinta-feira, às 16h06, Praça Raposo Tavares — Gentil, o jovem acende o cachimbo para o senhor de meia idade se drogar. Na mão esquerda, aberta, o rapaz segura outras pedras de crack, comercializadas no centro da cidade a R$ 10,00 a unidade. Foto de Walter Fernandes.
Quarta-feira, 16h12, Praça Raposo Tavares — Enquanto a garota fuma crack, o homem vigia. Ele percebe a presença do repórter-fotográfico Walter Fernandes e parece não se importar. Depois, ele também fuma.
Quinta-feira, 16h06, Praça Raposo Tavares — Grupo de jovens se protege do sol a pino sob uma palmeira e o cachimbo passa de mão em mão, de boca em boca. Os usuários do centro costumam ser rápidos no uso da droga. Flagrante de Walter Fernandes.